A inauguração da ponte entre Xambioá e São Geraldo serviu de vitrine para uma obra aguardada há décadas e também para revelar outra espera bem mais longa. As famílias expulsas da Serra dos Martírios/Andorinhas voltaram a aparecer no cenário público e aproveitaram o evento para entregar ao presidente Lula uma carta cobrando algo que o Estado promete desde os anos 1990: reassentamento digno.
Os fatos são simples e duros. A criação do parque estadual retirou mais de 70 famílias de suas terras. Desde então, nenhum dos órgãos responsáveis conseguiu concluir as etapas mínimas do processo. As indenizações anunciadas em 2014 não chegaram integralmente. As tentativas de reassentamento foram feitas sem infraestrutura básica. E documentos mostram divergências internas entre SEMA, INCRA, ITERPA e Ideflor-Bio sobre números, listas e responsabilidades.
Enquanto o parque acumulou verbas e relatórios, as famílias acumularam ofícios, reuniões e quase 30 anos de espera. A carta entregue agora não é um pedido novo, é a repetição do óbvio: elas querem sair do limbo administrativo criado pelo próprio Estado.
A ponte inaugurada conecta dois lados do Araguaia. A luta dessas famílias tenta conectar algo mais difícil: a promessa feita lá atrás e a resposta que ainda não chegou.